A Farmácia como profissão parece ter-se originado no mundo Árabe, na
primeira metade do século IX, de onde passou ao ocidente latino no século XI,
quando se tem notícia da existência de farmácias públicas. Pouco mais tarde, no
ano de 1233, no sul da Itália, foi promulgado o Édito de Frederico II da Suábia, que
decretava a separação entre o exercício da medicina e o exercício da farmácia,
sendo considerado por muitos, a Carta Magna da Farmácia. No século XVII a
profissão farmacêutica já tinha um significado preciso: arte e técnica da combinação
de substâncias simples para formar compostos, remédios e antídotos. No século
XVIII, botica e boticário eram os vocábulos que identificavam a farmácia e aqueles
que a ela se dedicavam.
Historicamente a população nativa brasileira tinha seus próprios meios para
curar enfermidades. Os pajés conheciam as qualidades terapêuticas de inúmeras
raízes e folhagens e as usavam em suas tribos até o início da colonização
portuguesa. O europeu colonizador naturalmente tomou conhecimento destas
práticas e assimilou-as principalmente por meio dos religiosos jesuítas que, desde
logo, procuraram conhecer a cultura indígena.
Remédios da “civilização” só apareciam quando expedições portuguesas,
francesas ou espanholas aportavam com suas esquadras, onde sempre havia um
cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia de drogas e
medicamentos. Com a vinda de Thomé de Souza, trazendo autoridades, funcionários
civis e militares, tropa de linha e diversos oficiais, ao todo, aproximadamente mil
pessoas se instalaram na Bahia, entre elas Diogo de Castro, primeiro boticário do
Brasil, formado pela Universidade de Coimbra. Vieram também nesta armada seis
jesuítas, quatro padres e dois irmãos, chefiados por Manuel da Nóbrega.
Os jesuítas trataram logo de instituir enfermarias e boticas em seus colégios,
colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. Em
São Paulo, o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso
podemos considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga.
Aos poucos, as boticas jesuítas passaram a atender ao povo em, que as
preferia, ao invés daquelas dirigidas por meros comerciantes que costumavam
errar no aviamento das receitas e não tinham escrúpulos em substituir as
drogas prescritas.
O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época, era a Tríaga
Brasílica, que se manipulava mediante fórmula secreta, usada contra a mordedura
de animais peçonhentos, em doenças febris, e principalmente como antídoto e
contraveneno (“exceto os corrosivos”). Gozava de grande fama e era considerada
tão boa quanto à de Veneza, pois agia pronta e rapidamente com a vantagem de,
em sua composição, entrarem várias drogas nacionais de comprovada eficiência.
Já na primeira década do século XIX, as boticas da capital baiana, segundo
testemunho de Spix e Martius, estavam “providas copiosamente de específicos
ingleses e remédios milagrosos”.
Desde o princípio do século XVI as “Ordenações do Reino”, conjunto de
leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período colonial, impunham
regulamentos à matéria farmacêutica, estabelecendo que o comércio das drogas
e medicamentos era privativo das boticas e seus boticários. No entanto, o impacto
sanitário dessa medida era substancialmente comprometido pela facilidade com
que qualquer pessoa podia obter sua “carta de aprovação” para o exercício
da profissão. Muitos destes boticários eram profissionais empíricos, às vezes
analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos corriqueiros. Era
comum na época, lavador de vidros ou simples ajudantes de botica requererem
exame perante o físico-mor (médico) ou seu delegado e, uma vez aprovados,
o que geralmente acontecia, arvorarem-se em boticários, estabelecendo-se por
conta própria ou associando-se a um capitalista ou comerciante, normalmente
do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos bons lucros no
novo negócio.
As boticas só foram autorizadas, como comércio, em 1640 e multiplicaram-se, de norte a sul, dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor,
ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador.
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